Interesses restritos e comportamentos repetitivos: o que são e como reconhecê-los?

Os comportamentos restritos e repetitivos são sintomas chave para o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA) e para a realização de uma intervenção precoce.

Pessoas com TEA comumente apresentam alguns comportamentos baseados em repetições e em manter rotinas e hábitos, com dificuldade para aceitar interações com as quais não estão acostumadas. Esses comportamentos podem ser potencialmente prejudiciais para a socialização dessas pessoas, necessitando de avaliação para que as intervenções sejam feitas no momento adequado.

Os comportamentos restritos e repetitivos (CRR) são formas de interação com o ambiente e consigo mesmo extremamente comuns em pessoas com TEA e, assim como as dificuldades para comunicação e interação social, são um critério essencial para o diagnóstico definitivo dessa condição. Esses comportamentos podem aparecer de diversas formas, mas a fim de tornar seu reconhecimento mais fácil, podemos dividi-los em dois grandes grupos.

O primeiro grupo é o dos comportamentos sensório-motores repetitivos (CSMR), que consistem em movimentos e interações com o ambiente que são realizados sem um motivo aparente, mas que podem ser prazerosas para o indivíduo ou até serem formas de se machucar. Entre os CSMR estão os movimentos repetitivos com os membros, alinhar ou girar os brinquedos, repetição de palavras ou frases que ouve, fascinação por luzes ou movimentos e cheirar ou tocar excessivamente os objetos.

O segundo grupo de CRR são os comportamentos de insistência na mesmice, que correspondem à dificuldade que os autistas têm de mudarem sua rotina e o apego que têm a seus hábitos. É comum que autistas repitam sempre os mesmos assuntos em conversas, brinquem sempre com o mesmo brinquedo, cumprimentem as pessoas sempre da mesma forma, entre outras formas de interação com o ambiente. Esses sintomas podem afetar até mesmo os hábitos alimentares fazendo com que aceitem comer um número muito restrito de alimentos.

Parte desses comportamentos de interesse na mesmice correspondem aos interesses restritos, que são interesses que autistas podem desenvolver por determinado objeto ou determinado assunto, como por exemplo, por trens, por aviões, por dinossauros, ou até mesmo por coisas mais simples como relógios, canetas e utensílios domésticos. Eles tendem a direcionar todo o seu foco de atenção no seu interesse, tornando-o presente em todas as áreas de sua vida. É comum que crianças em geral tenham algum interesse restrito durante seu desenvolvimento, mas no TEA essa questão pode tomar uma conotação patológica devido à persistência desses interesses e ao impacto que eles podem ter na qualidade de vida da pessoa.

É importante apontar que esses são apenas alguns exemplos, já que os CRR podem aparecer das mais diversas formas e intensidades na pessoa autista. Se faz significativo destacar que muitos desses comportamentos acontecem por conta das alterações sensoriais que são bastante comuns no TEA. Essas alterações sensoriais geram respostas aumentadas ou diminuídas a estímulos do ambiente, como por exemplo, uma grande sensibilidade a barulhos, ou pouca sensibilidade a dor, podendo haver diversos tipos de alterações sensoriais na mesma pessoa ou, inclusive, ao mesmo tempo.

Todos esses comportamentos e alterações sensoriais podem levar a pessoa autista a enfrentar algumas questões relacionadas a frustração, impulsividade ou até mesmo agressividade. Por isso a importância de identificá-los e avaliar as necessidades comportamentais e sensoriais de cada indivíduo afim de aliviar as dificuldades encontradas.

Essa avaliação precisa ser realizada precocemente e com bastante cautela, já que nem todo comportamento repetitivo é sinônimo de TEA, e nem mesmo sinônimo de doença. Os comportamentos repetitivos podem aparecer em outros transtornos como o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) ou fazer parte do desenvolvimento normal da criança. A avaliação se faz importante para identificar o diagnóstico e a real necessidade de intervenção. Alguns desses comportamentos auxiliam a pessoa autista a lidar com os estímulos do ambiente. Já outros, como os interesses restritos, podem gerar prazer e motivação, oportunizando formas de educação e de trabalho.

Sendo assim, podemos ressaltar que os comportamentos restritos e repetitivos são sintomas essenciais para a identificação e início da intervenção precoce no TEA. Lembre-se que essas manifestações podem surgir de diversas formas e se apresentarem de maneira distintas entre os indivíduos, conforme o conceito de espectro a partir do qual entendemos o autismo atualmente. Essas formas de comportamento podem interferir na socialização, trazendo prejuízos importantes, contudo, podem também servir de auxílio para lidar com estímulos ambientais. Por isso, destaca-se a importância da uma avaliação cautelosa e criteriosa que permita uma abordagem precoce e adequada, diminuindo as implicações que esses sintomas têm na vida do indivíduo e potencializando suas habilidades.

Esse é um tema bastante complexo e que ainda está sendo estudado pela comunidade científica. Você ficou com alguma dúvida? Deixe nos comentários.

Pedro Henrique Nitzke Schmitt e Sara Schmitt

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