A nave de Apolo está restaurando o contato com você, leitor, pois neste momento ela se encontra em uma via expressa cósmica que conduzirá todos a um novo e muito importante estágio relacionado ao diagnóstico do TEA: a da avaliação multidisciplinar. Esta corresponde a uma abordagem de trabalho aceita e aplicada em muitos campos da educação, dos serviços sociais e da saúde. Pode ser compreendida por um grupo de profissionais que contribuem com conhecimentos e habilidades em um esforço de equipe para beneficiar o usuário do serviço. Além disso, a colaboração multidisciplinar é exigida pela Convenção das Nações Unidas para os Direitos das Pessoas com Deficiência e adotada nas diretrizes do Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Cuidados da Inglaterra (país referência mundial em cuidados ao Transtorno do Espectro Autista). O objetivo destas medidas é favorecer a gestão do autismo em crianças e jovens, com a expectativa de que o todo é maior do que a soma de suas partes.
Receber o diagnóstico de um filho com TEA é um momento determinante para que haja mudanças e novas tomadas de conduta dentro da dinâmica familiar. No entanto, nem sempre o reconhecimento do TEA ocorre rapidamente. Embora muitas crianças possam apresentar manifestações típicas facilmente perceptíveis, em muitos casos o diagnóstico clínico não se faz tão evidente. Esta noção pode desencadear naturalmente nos pais um certo nível de aflição e sensação de despreparo para lidar com uma realidade possivelmente desconhecida até então. Contudo, é importante lembrar que não estão sozinhos neste processo de descoberta do fascinante mundo autista – aqui contamos com muitos tripulantes na viagem especial rumo ao diagnóstico sob a ótica da avaliação multidisciplinar.
Por isso, neste momento, Apolo necessitará de sua poderosa arma (a verdade) para ajudar a combater a ideia trazida pelos Lokis de que o processo do diagnóstico deve ser limitado ao momento da consulta médica. Isto não é necessariamente verdade. Sabendo-se que, não raramente, existem dificuldades relacionadas ao reconhecimento clínico do TEA, é importante tomar conhecimento de que o diagnóstico deve ser construído desde cedo por meio de observações em torno dos comportamentos da criança por parte da família e de outras pessoas. Um exemplo disso é quando os professores observam a postura da criança quando ela está interagindo com outras, seja na creche ou na escola, podendo assim ajudar a identificar alguns traços dentro do espectro autista.
Além de prezar pelas observações prévias dos familiares e professores, você sabia que, quando recorremos ao diagnóstico clínico, podemos contar com uma série de especialistas? Diversos profissionais capacitados e especializados estão dispostos a ajudar. Entre eles, pediatras, psiquiatras, fonoaudiólogos, educadores (professores, por exemplo), assistentes sociais e psicólogos podem e devem estar envolvidos sempre que possível neste processo, pois a temática do autismo é estudada e trabalhada por uma variedade de áreas. O recrutamento de uma equipe multidisciplinar, composta por diferentes profissionais da saúde, é considerado a melhor forma de se chegar a um diagnóstico direcionado e preciso – não apenas tratando-se do TEA, mas também de outros transtornos do desenvolvimento.
Atena nos explica que as especializações são importantes porque é impossível para uma só pessoa ser totalmente treinada em todas as competências. Por exemplo: os educadores podem se especializar em educação primária, secundária, especial ou vitalícia. Os médicos, em cirurgia geral, cardiologia ou ortopedia. Os psicólogos, em terapia cognitivo comportamental, psicanálise ou psicologia educacional. E assim também ocorre em outras profissões. Juntas, estas áreas de especialização têm por objetivo fazer com que os usuários dos seus serviços se beneficiem de um atendimento e entendimento abrangente, que combina territórios de conhecimento e se estende além dos limites profissionais de cada uma individualmente.
Na avaliação multidisciplinar, recomenda-se abordar o histórico do paciente, seu comportamento social, sua comunicação verbal e não-verbal, seu comportamento de adaptação a certas situações, seus comportamentos atípicos e seu estado cognitivo, o qual lhe permite pensar e refletir. Ou seja, envolve muitos aspectos relacionados ao seu estilo de vida e às suas capacidades. Também vale lembrar que o autismo se apresenta como um espectro e, portanto, cada indivíduo com TEA poderá carregar combinações diferentes de algumas características típicas (você poderá ler mais sobre isso no próximo artigo “Ao conhecer uma pessoa com autismo você conhece um autista e não todos”). Nesse sentido, a avaliação multidisciplinar se faz presente ao ser capaz de detectar, por meio de diversas perspectivas profissionais, tais características no paciente.
Na prática da ciência, Dr. Spectrum nos ensina que é preciso sempre exercitar a curiosidade e observar atentamente o mundo ao nosso redor para fazer novas perguntas e obter novas respostas. Da mesma forma, numa avaliação multidisciplinar, os profissionais devem realizar observações e entrevistas com o paciente, valendo-se de ferramentas como a Escala de Avaliação para Autismo Infantil (CARS-2) e o Protocolo de Observação para Diagnóstico de Autismo (ADOS), para que assim possa compreendê-lo melhor. Por fim, o resultado destas avaliações reforça os achados das demais, que juntas à análise médica final, permitem fechar devidamente o diagnóstico de TEA.
As particularidades que envolvem o diagnóstico de TEA levam a necessidade de vários conhecimentos especializados para sua compreensão. Por isso, o trabalho de uma equipe multidisciplinar envolve áreas de atuação que possibilitam alcançar sensibilidade, acordo e precisão na análise de cada caso. Poder contar com uma equipe diversificada de profissionais no diagnóstico e desenvolvimento do indivíduo com TEA beneficiará a ele e sua família na identificação de suas capacidades e de possíveis desafios a serem enfrentados em conjunto.
Você conhece equipes com vários profissionais que trabalham o diagnóstico autista de forma multidisciplinar na sua cidade? Conta para a gente nos comentários!
Gisela Aparecida Sartor e Priscilla Luiza Silveira